Como se fosse a primeira vez

Houve uma grande explosão. O que estava preto se tornou claro como um flash, um brilho intenso de luz e magia. A claridade, meio segundo após ser feito, se desfez na forma de uma centena de estrelas cadentes, que cadentes como eram, caiam vagarosamente, quase flutuavam, sumindo vagarosamente num brilho infinitesimal.

Era o princípio. O mundo se fazia jovem, de novo, pois tudo é cíclico e assim a vida, que numa hora não existia, surge, pensando que é sua primeira vez, quando tudo isso já aconteceu uma vez, e voltará a acontecer de novo.

Mas se soubéssemos que nosso balé é bailado pela segunda, terceira, quadragésima vez, brilharíamos com tanta intensidade? Ou faríamos com o marasmo de quem escova os dentes mais uma vez? Há sabedoria na ignorância, ou benção. Sem se importar com isso, um novo clarão ocupa a escuridão deixada pelos miasmas do brilho anterior e uma nova chuva de estrelas se forma.

Todo dia primeiro do ano, as explosões e fogos brilham como se fossem a novidade, como se o mundo surgisse. Como ocorre a cada 365 dias, 366 à cada quatro anos, temos a sensação da novidade, da renovação. Os primeiros anos novos, nem sabemos do que se tratam. São um dia de pesadelo de barulho e explosões ao longo de uma rotina de comer, dormir e cagar.

Então vem o nosso primeiro ano novo de fato. Devemos ter entre 3 e 4 anos quando entendemos o que está acontecendo. Ou quase, pois ainda não desvendamos os mistérios daquilo chamado tempo, e assim, ao segundo ano novo da nossa consciência, não sabemos se passou uma semana ou um mês ou doze entre o ato e o fato.

Finalmente, a data se torna fato, e a celebramos entre parentes, e depois entre parentes e amigos, entre amigos somente e com sua paixão ao final. Festejamos por poder ficar até tarde, pela comida diferente, pela permissão da bebidinha alcóolica, pela festa e pela noitada. E depois, por nada...

Então, assim como aqueles fogos explodem, pensando que são pela primeira vez, é pela primeira vez que você olha, de fato, aqueles fogos, segurando em seus braços um ser semi-consciente e chorando, que sua rotina de comer, dormir e defecar esta sendo atrapalhada por aquela barulheira e pessoas se abraçando. Começar é recomeçar, mesmo quando não sabemos disso, nós, ou os fogos...

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